Veja esta matéria na íntegra na Edição #4 da REVISTA OVERLANDER
Um carro icônico, divertido e amigo – traz alegria por onde anda, tanto para o seu dono quanto ao visitante. Na estrada por décadas, continua percorrendo lugares incríveis e criando experiências inesquecíveis para muitos aventureiros.
Veja a primeira história de pessoas apaixonadas pelas suas Kombis . . .
GuRu Expedição – A Confiável Parceira
Gustavo Leite e Ruth Werblowsky – www.guruexpedicao.com.br
“Eu não viajo nesse carro de jeito nenhum!”– disse a Ruth ao ver a Kombi pela primeira vez.
Quando decidimos dar a volta na América do Sul, tínhamos um orçamento baixo, mas um desejo enorme de realizar esse sonho. Procurávamos um veículo onde pudéssemos dormir, para economizar na hospedagem, além da mecânica confivel, sem complicações e com manutenção barata. Encontramos uma Kombi estilizada, cor vinho, ano 1978, motor refrigerado a ar e modifiada para viajar. Tinha o que um motorhome de verdade possuía: cama, armários, teto elevado, geladeira e até banheiro. Pelo valor, cabia em nosso bolso. Fomos ver.
Embora estivesse parada há oito anos sem ligar e dentro fosse puro pó e mofo, motor e lataria estavam bem conservados. Durante décadas os antigos donos viajaram com ela, contudo, aos 80 anos resolveram que era o momento de novos aventureiros desfrutarem da mesma felicidade que o carro havia lhes proporcionado.
Pensamos muito e acabamos comprando o carro, batizado de Açaí. Foi direto à oficia e, para nossa surpresa, não havia grandes problemas mecânicos. Mesmo assim ainda existiam dúvidas, não apenas nossas, mas também da nossa família e amigos, quanto à ideia de percorrer uma distância tão grande com esse carro antigo.
Isso não nos impediu de dar continuidade ao projeto. Surpresos com o desempenho do Açaí depois de 25.000 km rodados, seis países cruzados e 5.000 metros de altitude alcançados, o carro já havia conquistado a nossa confiana e sentíamos segurança em colocá-lo em qualquer terreno.

O grande desafio oi a travessia do Uyuni (Bolívia) para San Pedro do Atacama (Chile), cruzando o Altiplano boliviano e passando pelas exóticas lagunas Colorada, Verde e Blanca. Sabíamos que o trajeto era para veículos traçados, por isso fomos orientados por um amigo chileno, e que aguardava a nossa chegada, a não fazer este caminho.
Seguindo sua recomendação, partimos rumo ao Chile por uma estrada de terra esburacada. Depois de 130 km, que demoraram três horas para percorrer, quando passou na direção contrária uma caminhonete em alta velocidade, uma pedra voou e bateu no para-brisa, que se desfez em pedaços. Removemos os cacos de vidro e retornamos à cidade do Uyuni, para tentar resolver a situação. Por sorte, existia uma única loja de para-brisa na cidade e conseguimos trocá-lo.
Foi aí que a questão surgiu novamente; por que desistir de atravessar o Parque, se a Açaí sempre teve espírito off-oad e até agora se mostrou tão valente? Abastecemos nossos galões com gasolina, assumimos os riscos de cruzar o deserto e partimos para a travessia. Não podíamos deixar essa oportunidade passar! O caminho foi maravilhoso. Um emaranhado de montanhas que nos abraçava e acompanhava a estreita estrada, onde os simpáticos guanacos reinavam e enfeitavam a paisagem. Não nos surpreendia cruzar apenas com veículos 4×4, a estrada era de pura areia.
Foi quando avistamos uma subida íngreme. Como de costume viemos no embalo e na metade do trecho o carro perdeu força. Isso era esperado, considerando os 4.000 metros de altitude. O carro sentia falta de ar! Voltamos para recomeçar. Tentamos pegar embalo mais algumas vezes, sem sucesso. Nesse momento pensamos em voltar as cinco horas percorridas, mas preferimos adotar a seguinte estratégia: a Ruth colocou uma pedra atrás de cada pneu traseiro, em seguida eu engatei a primeira marcha, não subiu nem um metro. Puxei o freio de mão e esperei as pedras serem recolocadas. Primeira marcha novamente, avança mais um pouco e assim fomos por uma hora. Não acreditávamos que tínhamos conseguido sair daquela enrascada!
Durante todo trajeto o carro demonstrou força e nos levou a lagunas e paisagens inesquecíveis, provando mais uma vez que podíamos confiar nele. Mees depois, uma nova aventura: percorrer um longo trecho da Carretera Austral chilena, passando por diversas reservas naturais e rios de água cristalina. Uma beleza de tirar o fôlego! Foram semanas percorrendo a estrada e acampando em lugares intocados, em meio à natureza da Patagônia, onde a sensação de liberdade nos acompanhava o tempo todo.
Rodávamos lentamente e quando encontrávamos um lugar ideal, entre rios, montanhas e picos nevados, estacionávamos e aproveitávamos o conforto do nosso lar, a Kombi. Aquilo que parecia desvantagem se converteu em benefício. O tamanho do carro nos permitia estacionar facilmente e, com sua baixa velocidade, desfrutamos mais do caminho.
Se tivéssemos escutado o que alguns diziam sobre o carro, não teríamos ido longe. No entanto, não tínhamos muitas opções. Hoje temos certeza de que as economias de anos de trabalho foram “investidas” da melhor forma, na realização do nosso sonho.
Veja esta matéria na íntegra na Edição #4 da REVISTA OVERLANDER